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Criação nº 142

Mas Alguém Me Perguntou Se Eu Queria Ir Ao Teatro?!

Um Texto que nos aproxima


“Mas alguém me perguntou se eu queria ir ao Teatro?!” é uma pergunta que muitos jovens se colocam, quando não é criado um hábito de fruição cultural nas suas vidas. Apesar de a maioria dos adolescentes de Viana do Castelo estar familiarizada com a vinda ao Teatro desde a infância, algumas resistências surgem nesta idade. Assim, foi desejo do Teatro do Noroeste – CDV não só aproximá-los do Teatro como também dos textos do plano curricular da disciplina de Português do Ensino Secundário. Assim, colocando em cena 2 adolescentes, com histórias que poderiam acontecer a qualquer um dos que estão sentados na plateia, com o recurso às tecnologias que por um lado afastam, mas por outro reduzem distâncias, os textos que muitas vezes são “monstros” nas suas cabeças, acabam por adquirir uma normalidade que desperta o interesse e desmistifica.


A DireçãoElisabete PintoRaquel AmorimAna Perfeito

Porque é que o nosso serviço educativo é tão importante?


Na matriz do Teatro do Noroeste - CDV está inscrita a missão de contribuir para o que se designava e entendia por formação de públicos e, hoje, evoluiu para o conceito de desenvolvimento de públicos. De facto, desde o contexto histórico e territorial da sua fundação, em Viana do Castelo, em 1991, enquanto Companhia Residente do Teatro Municipal Sá de Miranda, o Teatro do Noroeste - Centro Dramático de Viana tem sido um pólo de criação e programação artística profissional que oferece um conjunto de atividades culturais dedicadas a, virtualmente, públicos de todas as faixas etárias, ciclos de ensino e estratos sociais. E se, naquela altura, as práticas daquilo que hoje entendemos como serviço educativo compreendiam estratégias elementares, como a oferta de bilhetes e transportes gratuitos às populações enquanto estratégias de iniciação à formação de hábitos culturais, atualmente, o Teatro do Noroeste - CDV prossegue fins bem mais ambiciosos em termos de fruição cultural. Vigiando-nos para não incorrermos em práticas que consideramos paternalistas e que podem ser diretivas no modo de fazer ver e mesmo, de fazer pensar dos públicos, encaramos a educação, a mediação e a acessibilidade aos bens culturais de uma forma qualitativa e democrática. Isto é, procuramos o melhor para o leque mais alargado possível de cidadãos. E não outra coisa qualquer.

Desde 2017 que vimos renovando e incrementando atividades de mediação e acessibilidade, tais como o Ver Com As Mãos - Reconhecimento Sensorial Prévio da área cénica para espetadores cegos. Também o Gestu - Tradução Simultânea em Língua Gestual Portuguesa é dedicado aos espetadores surdos. E, de uma forma alargada, o Digestivo - Conversas Pós-Espetáculo promove aquilo que entendemos ser uma ainda necessária e didática dessacralização dos espaços de fruição cultural. Este conjunto de iniciativas passou a inscrever-se na orgânica produtiva do Teatro do Noroeste - CDV e abrange cada uma das criações próprias em, pelo menos, uma sessão, e o maior número possível de criações em acolhimento, como acontece no Festival de Teatro de Viana do Castelo, que a Companhia organiza, e no qual, todos os espetáculos contam com a realização destas iniciativas.

A acessibilidade, mediação e educação associadas ao espetáculo de teatro e à atividade de uma Companhia como o Teatro do Noroeste - Centro Dramático de Viana, que tem a responsabilidade de ser Companhia Residente do Teatro Municipal Sá de Miranda, são áreas simultaneamente apaixonantes, desafiantes e, aparentemente, tão inesgotáveis quanto utópicas. É que, quando pensamos que encontrámos uma nova solução, uma melhor resposta para determinado público ou para uma qualquer obra específica, eis que logo surge o próximo desafio, numa sociedade em que a democratização de práticas e direitos dos cidadãos é cada vez mais exigente. E bem.


Raquel AmorimDiretora do Serviço Educativo do Teatro do Noroeste-CDV
Ricardo SimõesDiretor Artístico

Sinopse

Esta é a pergunta que se atira quando, na escola, nos impingem a ida ao teatro para assistirmos a um “teatrinho” que nos vai ajudar a perceber o programa de Português e a tirar alta nota no exame nacional. Só que não! Do Gil Vicente perde-se o verso; do Garrett, a tragédia e do Fernando Pessoa, a conta a tantos heterónimos. E para piorar, não se pode utilizar o telemóvel!

Do Texto

Quando partimos para a criação deste espetáculo, as premissas eram: um ator e uma atriz, com formação em interpretação, tão jovens quanto possível; dois telemóveis; criar um espetáculo de teatro que contemplasse os programas da disciplina de Português do Ensino Secundário, numa rapsódia de textos capaz de entusiasmar os públicos a que se destinava, ou seja, e muito especificamente: os estudantes do Ensino Secundário, com idades a partir dos 15 anos.

Feitas audições para encontrar os intérpretes, Francisco Lima e Rafaela Sá, e tendo como assistente Patrícia Alves, finalista da UTAD em estágio curricular, começámos ensaios tendo como material textual as obras de teatro (são apenas 2!), as crónicas, os romances e uma já pré-seleção de poemas de alguns autores dos programas curriculares dos três anos da disciplina de Português.

Convocámos Os Maias, de Eça de Queiroz; A Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente; o Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco; Os Lusíadas e Sonetos de Luiz Vaz de Camões; Cantigas de Amigo, de D. Dinis; cantigas de escárnio e maldizer de autores desconhecidos; o Sermão de Santo António aos Peixes, de Padre António Vieira; o Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett; o Tabacaria, de Álvaro de Campos; O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago; Sísifo, de Miguel Torga; e Pelo Sonho é que Vamos, de Sebastião da Gama.

Terminámos com uma homenagem à adaptação musical do poema de Camões: Mudam-se Os Tempos, Mudam-se As Vontades, por José Mário Branco, que nos projeta para o futuro a partir de um soneto com quase 500 anos. Tudo em exatamente 60 minutos sem intervalo, com direito a toque para fora.

Como na escola. Só que no teatro.

Foi uma dinâmica de escrita em processo, envolvendo-nos aos quatro como cocriadores do espetáculo. Através de conversas e análise de textos, assim como de improvisações mais e menos orientadas, fomos construindo a dramaturgia em conjunto. Por isso, não introduzimos no texto, que íamos criando ao longo de cada ensaio, quaisquer notas ou didascálias. E, também por isso, optou-se pela publicação não editada do texto integral do espetáculo Mas alguém me perguntou se eu queria ao teatro?!.

O melhor anseio é que este texto possa ser para outros o que foi para nós: um material textual de trabalho. Um ponto de partida e de regresso. Uma embarcação. Um texto de teatro.


Ricardo SimõesEncenador

Os Intérpretes

Francisco Lima

Nasceu em 1999 em Vila Nova de Famalicão e concluiu o curso de Interpretação na Academia Contemporânea do Espetáculo de Famalicão.

Estreou-se profissionalmente com O Quarteto Para O Fim Dos Tempos, numa encenação de Jorge Pinto com produção Ensemble – Sociedade de Actores, tendo também colaborado com companhias e estruturas como: Academia Contemporânea do Espetáculo de Famalicão, Casa das Artes de Famalicão, Cão Danado e Teatro Noroeste – Centro Dramático de Viana, onde inclui o elenco de Mas Alguém Me Perguntou Se Eu Queria Ir Ao Teatro?!..


Rafaela Sá

Iniciou a sua formação teatral em 2015 no Curso Profissional de Interpretação na ACE -Famalicão.

Em 2017 estreou-se profissionalmente com “Mulheres-Tráfico”, encenação de Manuel Tur, tendo depois participado em: “Das Tripas, Coração” - 99: Um Ano Para o Centenário_ Teatro Nacional São João, dirigido por Nuno M. Cardoso e Nuno Cardoso; “(A Tragédia) de Júlio César”, encenação de Luís Araújo numa produção Ao Cabo Teatro com Coprodução Teatro Nacional São João e do São Luiz Teatro Municipal; “Mas Alguém Me Perguntou Se Eu Queria Ir Ao Teatro?!” uma criação do Teatro do Noroeste, encenado por Ricardo Simões; “A Vós” dirigido por Sara Barbosa, Luísa Braga e Rafaela Sá; “António Marinheiro” e “ Terror e Miséria na Queda da Democracia” produções da Companhia de Teatro Os Quatro Ventos, encenados por Pedro Ribeiro.

Com a companhia Cão Danado participou no intercâmbio Creativity UK e filmou com o realizador de cinema francês Pascal Luneau.

Assistente de palco em “Primavera Selvagem” de Arnold Wesker, encenação de Jorge Pinto, Co-produção Ensemble – Sociedade de Actores /TNSJ.

Na ACE Escola de Artes de Famalicão trabalhou como assistente de encenação de: Emília Silvestre, João Castro, Miguel Eloy, Paulo Calatré, Pedro Lamares, Tiago Correia, Tony Oliveira e assistência de realização a Nuno Rocha.

Estreou-se em cinema com “Cair”, uma curta-metragem de Vasco André dos Santos produzida pela Versum Creative Studio em parceria com a XS Filmes e “Estações da Vida. Vento da Desordem”, um filme de Tomás Baltazar. Já na televisão estreia-se com a minissérie da RTP1“Fernão Lopes: A História de um Soldado Desconhecido” com direção de Hugo Diogo.

Os Criadores

Ricardo Simões

Cocriação e Encenação

1979, Viana do Castelo. Licenciado em Gestão Artística e Cultural. Bolseiro de Mérito Académico IPVC / DGES-MCES, em 2009/2010 e em 2010/2011. Frequentou o Doutoramento em Estudos Culturais das Universidades do Minho e de Aveiro, com Especialização em Sociologia da Cultura. Jurado convidado em Provas de Aptidão Profissional, ACE-Porto (2018) e Balleteatro (2019, 2021, 2022). Ator profissional desde 1997, fez 1 ano de formação na OficinActores - Nicolau Breyner Produções - Lisboa. Em mais de 65 criações do Teatro do Noroeste-CDV de 1997 a 1999 e de 2006 até hoje foi: ator; assistente produção e encenação; comunicação; encenador e dramaturgo residente de 2013 a 2015. Colaborou e/ou promove colaborações com: ACERT; ACTA-Algarve; Artimagem; Comuna; Escola da Noite; Artistas Unidos; Circuito Ibérico Artes EsCénicas (Espanha); CTA-Almada; CTB-Braga; Cendrev-Évora; Centro Dramático Galego (Espanha); European Theatre Convention (Berlim); Festival Mindelact (Cabo Verde); FITEI; Instituto Internacional do Teatro UNESCO (Paris/Xangai); LU.CA; Bando; Teatrão; Seiva Trupe; Teatro das Beiras; Teatro Fontenova; TEC-Cascais; TEP-Porto; Teatro Municipal do Porto; Teatro Nacional S. João; Teatro Montemuro; Teatro Nacional 21; Teatro do Vestido; e com os/as criadores/as: Carlos Avilez, João Mota, Jorge Silva Melo, Olga Roriz, Guillermo Heras, Fernando Gomes, Isabel Barros, Nuno Cardoso, Alexandra Moreira da Silva, Gonçalo Amorim, Pedro Mexia, Joana Craveiro, Albano Jerónimo, Sara Barros Leitão, entre outros/as/xs. Desde 2014, escreveu, interpretou e/ou encenou: “Cenas da Vida dos Maias"; "Enquanto Navegávamos"; "A Casa do Rio"; "24A74 - Salgueiro Maia"; "Bodas de Sangue”; "O Sonho de Pedro”; "A Estalajadeira"; "Ovos Misteriosos"; “Rottweiler”; “Mas alguém me perguntou se eu queria ir ao teatro?!”; “Noites de Caxias"; “A Noite”. Em 2017, criou o Festival de Teatro de Viana do Castelo, que dirige. É diretor artístico do Teatro Noroeste - Centro Dramático de Viana desde setembro de 2015.


Patrícia Alves

Cocriação e Assistência de Encenação

Nasceu em 1999 em Viana do Castelo e frequenta a Licenciatura em Teatro e Artes Performativas, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Realizou estágio curricular, na companhia de Teatro, Teatro do Noroeste - Centro Dramático de Viana, onde fez a assistência de encenação da peça Mas Alguém Me Perguntou Se Eu Queria Ir Ao Teatro?!


Adriel Filipe

Iluminação

Nasceu em 1993 no Brasil. Foi modelo infantil de fotografia e passarele. Chegado a Portugal em abril de 2009, tirou o Curso de Técnico de Animação Sociocultural na Escola Secundária de Monserrate, Viana do Castelo, que concluiu em 2012. Em 2010 integrou o elenco de um grupo de teatro amador de Santa Marta de Portuzelo (Grupo Parnassus) e participou em diversas iniciativas e projetos teatrais de forma amadora ou independente. Estreou-se profissionalmente no Teatro do Noroeste-CDV em 2011, no espetáculo "Ecos Verdes", de Castro Guedes. Em 2012, participou numa Masterclass de Teatro com o ator João Grosso, assim como mais tarde, fez outras formações em interpretação, com Pedro Giestas e Guilhermo Heras. Participou em várias edições da Escola de Verão para Atores, tendo como formadores Guilhermo Heras, João Mota, Olga Roriz, Alexandra Moreira da Silva, Isabel Barros, João Henriques, Teresa Lima, Ricardo Simões, Nuno Cardoso, Antonio Simón, entre outros/as. Integrou o elenco residente do Teatro do Noroeste-CDV entre janeiro de 2014 e dezembro de 2019, tendo participado nos espetáculos “João e o Pé de Feijão”, "A Vida Trágica de Carlota, a Filha da Engomadeira”, "O Gato das Botas", "Viva o Casamento", "Pinóquio" e "Perdição", de Fernando Gomes; "Pequenas Peças Desoladas" e "Bodas de Sangue", de Guilhermo Heras; "Anjo Branco" e "(I)migrantes", de Graeme Pulleyn; “A Estalajadeira” e “A Noite” de Ricardo Simõers, entre outras produções da Companhia até 2018/2019. Desde 2020, por desafio da Direção Artística exerce, principalmente, a função de Produtor Executivo, tendo a seu cargo a organização, implementação e acompanhamento dos processos de criação, acolhimento e circulação da Companhia, incluindo e com destaque para o Festival de Teatro de Viana do Castelo; assim como a manutenção e articulação entre espaços de trabalho da Companhia, reportando à Assessoria Diretiva, à Direção Artística e à Direção do Teatro do Noroeste - Centro Dramático de Viana.