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Criação nº 157

Manuela Rey is in da House

Um mistério nos teatros de Galiza e Portugal

Manuela Rey, Manuela Lopes Rey é mais do que uma linha no livro de registo de enterramento do cemitério dos Prazeres de Lisboa. É um mistério que começa em Mondoñedo numa casa da aldeia de San Vicente de Trigás e acaba na Praça da Figueira de Lisboa. De Mondoñedo a Lisboa. Da Galiza a Portugal. 671km e 23 anos de vida. 22 anos de teatro. Galiza sempre foi terra de emigrantes e por isso não é de estranhar que uma das nossas principais atrizes passasse a sua curta vida e trajetória fora das suas fronteiras, no vizinho Portugal. Manuela Rey nasceu em 1842 e quando morreu em 1867 era atriz do elenco residente do Teatro Nacional D. Maria II de Lisboa. Pelo caminho pouco sabemos

Quem foi Manuela Rey?

Da vida de Manuela pouco sabemos. Crê-se que era filha de Andrés Rey Expósito e Francisca González, que casaram depois de Manuela nascer, em março de 1843 e que era a mais velha de oito irmãos. A certa altura foi entregue a uma família que integrava uma companhia de teatro itinerante. León, Palência, Bragança, Valença, Ponte de Lima, Viana do Castelo, Régua, Porto, Lisboa. Lisboa, o seu destino final em novembro de 1857, onde começou a trabalhar no Teatro Nacional D. Maria II de Lisboa. Aqui consagrou-se em grandes êxitos como O Filho do Cego, A Alegria Traz o Susto, Fogo no Convento, Nobres e Plebeus e Um Cura de Almas. 

Uma escritora perdida na memória

Sabe-se que Manuela escrevia. E que bem que o fazia. Mas apenas restam algumas linhas do seu talento. Algumas reflexões dos seus diários como aquela que, acerca dos homens, dizia: "Pequenos, que não percebem o é a mulher... erguem-lhe um caminho cheio de espinhos e ai! Toca a fugir desse caminho! Porque é que as amam, então? E se a mulher entrega, sem que lho peçam, o coração, exclamam – Baixeza da alma! Miseráveis! Que não sabem avaliar a grande prova de abnegação e afeto, que a mulher dá, quando assim se rebaixa perante o homem que ama! Cegos que não a consideram como a metade da sua alma, mas antes necessária à sua vaidade e aos seus caprichos... para no dia seguinte se afastarem dela como se se desviassem de um lamaçal, esquecendo-se que dias antes eram eles próprios os que rejubilavam e rebolavam nessa lama." 

Um espetáculo necessário

Dizem que o teatro deve fazer perguntas e dar poucas respostas. Este projeto parte dessa premissa por necessidade e por convicção. Os teatros públicos têm, nas suas várias preocupações, a da proteção e difusão do património teatral do seu país. Parece que, quer de um lado quer do outro da nossa fronteira, nos esquecemos de valorizar uma das nossas grandes atrizes. Mais um património comum entre a Galiza e Portugal perdido na memória dos dois territórios. Neste espetáculo é quase uma obrigação e um dever para todos quantos nele participamos, restituir o lugar que corresponde, na história do nosso teatro, a esta grande intérprete. 

Sinopse

Manuela Rey, “a mulher lírio” é mais do que uma linha no livro de sepultamentos do cemitério dos Prazeres, em Lisboa. É um mistério que começa em Mondoñedo, numa casa de aldeia, em 1842, e termina no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. De Mondoñedo a Lisboa. Da Galiza a Portugal. 23 anos de vida. 23 anos de teatro. Como reconstruir uma vida onde só temos retalhos soltos e contraditórios?

Sabemos que ao fim de seis anos foi entregue a uma companhia teatral itinerante, que percorreu Leão, Palência, Bragança, Valença, Ponte de Lima, Viana do Castelo, Régua, Porto para que o grupo familiar adotivo chegasse a Lisboa e triunfasse no Teatro Nacional D. Maria II e morre como uma estrela aos 23 anos. Manuela Rey é a história esquecida do teatro galego e português. Atriz. Escritora. Neste espetáculo tentamos recuperar o que ficou da sua memória. Porque sem memória não há História.

Os Intérpretes


Mariana Carballal

Atriz

Docente, diretora de cinema, teatro, televisão e ativista pela igualdade de género na cultura. Atualmente trabalha como professora de Interpretação na Escuela Superior de Arte Dramático (ESAD de Galiza), de Direção em Comunicação Audiovisual na Universidade de Vigo, e de Câmera na UMinho (Guimarães). Combina as suas funções de educadora com o seu trabalho artístico e o seu ativismo feminista. Pertence a CIMA, CYM e Prémios da Crítica de Galiza. Faz parte da direção de Clásicas y Modernas e em Galiza é coordenadora dos programas Temporadas de Igualdad y Bibliotecas en Igualdad. Recebeu o Premio Galicia en Femenino, atribuído por La Xunta de Galicia em reconhecimento da sua contribuição pela visibilidade das mulheres nas artes e os prémios de honra Xociviga y Mácara de Teatro, referente Audiovisual Ourensán y Viguesa Distinguida, em reconhecimento pela sua carreira profissional. 

Neto Portela

Ator e apoio à criação

Ator, encenador e professor de teatro, é licenciado em Artes Cénicas pela Universidade Federal de Pernambuco com protocolo na Universidade Nova de Lisboa. Estudou expressão corporal e técnicas circenses em formações que incluem escolas como o Chapitô, o Armazém 13 e o SESC [BR]. Foi codiretor artístico do CTCMCB de 2013 a 2020, onde criou mais de 40 espetáculos, a programação do ContraCena - Festival de Teatro, além de diversas intervenções cénicas a partir do trabalho sobre a ruralidade, o património cultural local e o teatro comunitário. Colabora desde 2022 com o Teatro Nacional S. João do Porto como orientador do Clube de Teatro SUB_18 e foi artista criador no Projeto Visitações – A Viagem de Saramago [2022], com direção de Nuno Cardoso. É artista residente do AEG1 em Gondomar desde 2021. 

Nuno J. Loureiro

Ator

Licenciado em Estudos Teatrais, variante de Interpretação em 2003, pela E.S.M.A.E. - IPP, colaborou entre 2006 e 2010 com Howard Gayton, Lee Beagley e Nuno Cardoso na cadeira de Produção, enquanto Assistente de Encenação. Tem trabalhado de forma ampla e diversificada em projetos de cariz artístico, formativo e com a comunidade com companhias do Norte do País como “Teatro do Noroeste”, “Visões Úteis”, “Comédias do Minho”, “Cão Danado” e “Astro Fingido”, apenas para mencionar as mais recentes. Em 2021 integra o coletivo de criadores no projeto “Ativa Sénior – Teatro Com Seniores do Alto Minho” criado pelo Teatro do Noroeste. 

Rafaela Sá

Atriz

Formada no Curso Profissional de Interpretação na ACE Escola de Artes – Famalicão. Em 2017 estreia-se com "Mulheres-Tráfico" encenação de Manuel Tur. Desde então integrou o elenco de numerosas produções : "Das Tripas, Coração" - 99: Um Ano Para o Centenário Teatro Nacional São João, dirigido por Nuno M. Cardoso e Nuno Cardoso; "(A Tragédia) de Júlio César" encenação de Luís Araújo numa produção Ao Cabo Teatro com coprodução Teatro Nacional São João e do São Luiz Teatro Municipal, "Terror e Miséria na Queda da Democracia" produções da Companhia de Teatro Os Quatro Ventos; "A Noite" de José Saramago e "Guerra de Sexos" reescrita e encenação de Ricardo Simões ambas produções do Teatro do Noroeste. 

Raquel Crespo

Atriz

Formada na escola de teatro e dança El Ruiseñor e graduada em Interpretação Gestual na Escola de Arte Dramática de Galicia (ESADG) no ano 2019. Inicia a sua carreira profissional como atriz no espetáculo 5 mulleres que comen tortilla, da companhia Señora Supina. No ano 2020 é selecionada e integra o elenco da peça Serva me, servabo te, produção do Centro Dramático Galego em coprodução com a companhia Prácido Domingo. No 2021, combinando o trabalho de figurinista e atriz, integra a equipa de Hotel Europa, escrita por Ernesto Is para a companhia Señora Supina. Dos seus últimos trabalhos destaca-se Cubo, da companhia galega Elefante Elegante. 

Teresa Vieira

Atriz

Licenciada em Teatro- variante de Interpretação pela ESMAE. Iniciou a sua atividade teatral em 1994 no teatro amador do Sporting Clube Candalense (V. N. de Gaia). Em 1999 teve a sua primeira experiência a nível profissional, no TEP com a peça “É uma só a Liberdade”, encenação de Noberto Barroca. Trabalhou com os encenadores João Mota, Nuno Cardoso, Fernando Mora Ramos, António Durães, Luís Varela, Geoff Beale, Júlio Cardoso, Ruben Marks, João Sousa Cardoso, Óscar Branco, Roberto Merino e Howard Gayton. Trabalha com teatro para a infância e para público escolar, como assistente de encenação, em curtas-metragens, longas metragens, vídeos institucionais e publicidade. Em 2019, encenou espetáculo “ A Praça das memórias” pelo grupo de teatro da Universidade Sénior do Marco de Canaveses. 

Xosé Lois Romero

Compositor musical e intérprete 

É um dos nomes relevantes na música galega atual. Acordeonista, percussionista, compositor, divulgador e docente. A sua trajetória está vinculada a alguns dos momentos e artistas mais importantes da história recente da música em Galiza, que inclui, desde os seus próprio projetos (Nova Galega de Danza, aCadaCanto, Vaamonde, Lamas e Romero ou Aliboria), a colaboração com outros projetos galegos e forâneos (Baiuca, C. Tangana, Mercedes Peón, Fuxan os Ventos, etc), a participação em espetáculos cénios (Centro Coreográfico Galego, C. Dramático Galego, Quique Peón Cía, Ballet Rei de Viana,...) até diversas publicações divulgativas (Pel e madeira, Doce polainas enteiras, Galeoke,...). XOSÉ LOIS Galardoado em numerosas ocasiões, possui 3 Prémios Marpn Codax da Música Galega.

 Os Criadores


Fran Nuñez

Dramaturgo e encenador 

Diretor do Centro Dramático Galego desde 2020 é Doutor em Comunicação pela Universidade de Vigo, Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Santiago de Compostela, Mestrado em Artes Cénicas e Teoria do Espetáculo pela Universidad del País Vasco, Mestrado em Economia da Cultura e Gestão Cultural pela Universidad de Valladolid, Licenciado em Publicidade e Relações Públicas pela Universidade de Vigo e Titulado Superior em Arte Dramática pela ESAD de Galicia. Fundador de Limiar teatro e Teatro del Hereje, com quem tem encenado mais de 20 montagens. Tem colaborado com companhias e entidades nacionais e internacionais, tais como o Centro Dramático Galego, o Teatro de la Zarzuela, a Orquesta Sinfónica de Galicia, Goliardos, o Teatro Español de Madrid, Ship of Fools, Boccaccione, o Teatro Nacional D. Maria II, Companhia de Teatro de Braga ou Compañía Nacional de Teatro de México. Tem parKcipado em projectos europeus como a rede He-Arts e tem realizado numerosas intervençoes cénicas em patrimonio histórico e em espaços naturais. 


Paula Ballesteros

Arqueóloga investigadora do INCIPIT/CSIC

Arqueóloga e atriz, centra o seu processo de investigação em observar e analisar a paisagem rural galega como um palimpsesto de intervenção humana contínua no tempo, mas também como uma realidade social extinta. Desde o Incipit- CSIC, forma parte de diversos projetos de I+D+i entre os que destaca os trabalhos realizados no Parque Nacional das Illas Atlánticas de Galicia que derivarão na exposição audiovisual ONSSOA (2021) produzida pelo Museo do Pobo Galego para a 16MICE. Ou os projetos relacionados com o património imaterial como ViteArquiva (2020), plataforma que arquiva a memória social de um bairro de Santiago de Compostela. Como atriz combina a criação cénica com o conhecimento adquirido das Ciências Sociais. 


Nuno Meira

Iluminador

Tem desenvolvido o seu trabalho exclusivamente como designer de iluminação, desde 1995, colaborando com diversos criadores das áreas do teatro e da dança, com particular destaque para Ana Luísa Guimarães, António Cabrita & São Castro, António Júlio, António Lago & Susana Chiocca, Beatriz Batarda, Gonçalo Waddington, Ivo Alexandre, Jacinto Lucas Pires, Joana Providência, João Cardoso, João Pedro Vaz, João Reis, Luís Araújo, Manuel Wiborg, Marco Martins, Marta Pazos, Né Barros, Nélia Pinheiro, Nuno Cardoso, Nuno Carinhas, Paulo Ribeiro, Tiago Guedes, Tiago Rodrigues, Ricardo Pais, Rui Lopes Graça e Sara Barbosa. Foi sócio fundador do Teatro Só (1995) e do Cão Danado e Companhia (2001), é sócio da ASSÉDIO (desde 1998) e é colaborador regular da Companhia Paulo Ribeiro (desde 2001) e dos Arena Ensemble (desde 2007). Foi distinguido, em 2004, com o Prémio Revelação Ribeiro da Fonte e em 2022 o prémio da melhor iluminação nos XXVI Prémios de Teatro María Casares com o espetáculo “OTHELLO” da companhia Voadora, e encenado pela Marta Pazos. 


Guilherme de Sousa

Apoio ao movimento

Concluído o ensino básico, assim como o 5o grau de clarinete e formação musical, ingressou na Academia Contemporânea do Espetáculo (ACE). Continuou a estudar teatro na ESMAE - Variante Interpretação. Concluídos os estudos em 2016, frequentou a Pós-Graduação em Dança Contemporânea, promovida pela ESMAE e pelo Teatro Municipal do Porto - Rivoli. Em 2019 destaca a reposição da peça “Mirror Piece” de Joan Jonas, no âmbito da sua retrospectiva apresentada no Museu de Serralves. Em 2017 venceu, em conjunto com Pedro Azevedo, a bolsa "Campo de Batalha" promovida pelo Teatro Municipal do Porto com o projeto "VANISH", e o concurso "Happy Together" com o projeto "Horto - Uma forma que vem do toque", uma parceria entre a Mala Voadora e CM do Porto no âmbito do Fórum do Futuro. Em 2019 fundou, a par com Pedro Azevedo, a associação cultural BLUFF, sediada no Porto. Foi Jovem ArKsta Associado do Teatro Municipal do Porto, em dupla com Pedro Azevedo. 


Pedro Azevedo

Cenógrafo e figurinista 

Iniciou a sua formação na Escola Secundária de Santa Maria da Feira, no curso de Artes Visuais. Terminou em 2017 a licenciatura em Teatro, na ESMAE. Paralelamente tem vindo a participar em projetos e workshops de vários criadores ou companhias. Desde 2016 desenvolve, em cocriação com Guilherme de Sousa, projetos que cruzam as artes plásticas com performativas, desenvolvendo um especial interesse no teatro, na dança e na instalação. Em dezembro de 2019 fundaram a BLUFF, uma associação cultural sediada no Porto. Em dupla com Guilherme de Sousa foi Jovem Artista Associado do Teatro Municipal do Porto pelas temporadas 2019/2020 e 2020/2021. Em março de 2023 receber o Prémio Revelação AGEAS Teatro Nacional D. Maria II.

Um espetáculo sobre o ofício do teatro, sobre a memória e sobre como a passagem do tempo modela a nossa paisagem, o nosso teatro.