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Criação nº 153

Lápis Cor de Carne

"Nenhum livro para crianças deve ser escrito para crianças."

Fernando Pessoa

Penso que o maior desafio de escrever um texto de teatro para a infância passa precisamente pela dificuldade e responsabilidade de escrever uma narrativa que não facilita nos conteúdos a que se propõe. É a primeira vez que escrevo dramaturgia para a infância e encaro-o com a tanta ou mais seriedade do que se o texto fosse avaliado por uma academia de adultos. 


Cláudia Lucas ChéuEscritoraPoetaDramaturgaArgumentista

Mensagem do Presidente da Câmara Municipal

Ao longo dos anos, o Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana tem-nos brindado com espetáculos de teatro de elevada qualidade, para os mais variados públicos e gostos. Por isso, é sempre com entusiasmo que o nosso Teatro Municipal Sá de Miranda acolhe uma nova peça e, neste caso em particular, não posso deixar de enaltecer a importância do tema abordado.

“Lápis Cor de Carne”, com texto de Cláudia Lucas Chéu, está em cena de 15 de fevereiro a 11 de março, no Teatro Municipal Sá de Miranda, e pretende sensibilizar o público escolar e o público em geral para a igualdade entre todos, independentemente do tom de pele e da nacionalidade.

Esta é uma obra didática, que pretende um futuro mais justo e livre para todos e, por isso, é com muito agrado que vejo as nossas crianças e o nosso público terem oportunidade de assistir a esta peça tão valiosa.

Deixo, pois, os parabéns a toda a equipa que integra “Lápis Cor de Carne”, desde a responsável do texto, até à encenadora, responsáveis de figurinos, cenografia, música, iluminação, coreografia, realçando os atores que assumem a interpretação.

Este é mais um trabalho inclusivo e com um tema tão pertinente. Por isso mesmo, espero que vianenses e visitantes tenham, por estes dias, oportunidade de ir ao nosso Teatro Municipal Sá de Miranda e de desfrutar de um espetáculo memorável.


O Presidente da Câmara MunicipalLuís Nobre

A Maioria Global de Pessoas

Depois de uma vida de mais de três décadas de serviço público no sistema de ensino de Inglaterra, Rosemary Campbell Stephens concretizou um sonho: o de uma reforma antes de completar 60 anos e uma mudança para as Bahamas, onde se situa a Jamaica, antiga colónia britânica e terra dos seus pais. No entanto, ao invés de parar, a professora reformada dedicou-se com ainda maior afinco a uma das suas áreas de investigação: a equidade étnica e, em 2003, formulou pela primeira vez o conceito e o termo que qual continua a dedicar o seu trabalho: Maioria Global de Pessoas (People of the Global Majority).

Na cultura anglo-saxónica, o termo “pessoas de cor” surgiu nos meados do século XX, nos Estados Unidos da América, como uma forma de segregação e subalternização das pessoas negras. Mas de ofensivo a princípio, o conceito evoluiu, tendo as próprias comunidades negras começado a empregá-lo em referência a elas próprias, apropriando-se do termo como mecanismo de empoderamento. No entanto, à medida que o discurso sobre justiça social evoluiu ao longo dos anos, o termo começou a expandir-se e a incluir mais e mais grupos de pessoas não brancas, incluindo nativos, latinos, asiáticos, árabes e outras pessoas do Médio Oriente, numa experiência negativa quer para a população negra, assim como para todos os outros grupos de pessoas não brancas que passaram subitamente a ser consideradas “pessoas de cor”, designação que ao contrário de mitigar a injustiça e desigualdade racial, criou ainda mais divisões e conflito.

No Reino Unido, nos anos 70 do século XX, surgiu o termo BME (Black and Minority Ethnics) para designar a população negra e não branca que se unia na luta contra a discriminação, a que se acrescentou posteriormente o “A”, resultando assim no termo BAME (Black, Asian, Minority Ethnics) que é usado para agregar todas as etnias não brancas.

No entanto, este termo tem vindo a ser crescentemente criticado porque, assim como o conceito de “pessoas de cor”, ambos colocam a perspetiva das pessoas brancas no centro, perpetuando a ideia perniciosa de que o branco é a “cor por defeito” e que, por isso, as pessoas brancas não têm uma etnia particular. A raça continua assim a ser um marcador identitário exclusivo das pessoas não brancas, que continuam a ser designadas “de cor” pelo facto de não serem “isentas de cor”, ou seja, brancas. Assim, a designação “pessoas de cor” continua a situar a existência das pessoas não brancas numa relação estrita com a “branquitude”, em vez de as libertar desta.

Por seu turno, o conceito de pessoas da maioria global (people of the global majority, sob o acrónimo PGM) considera a identidade das pessoas não brancas de uma forma independente da “branquitude”. É um termo que não apenas descentra a “branquitude”, como lhe confere irrelevância. O termo vale por si mesmo. Possui significado próprio. Refere-se a uma identidade que se liberta de uma relação subalterna relativamente à “branquitude”.

Isso acontece principalmente porque o termo afirma o poder inerente ao facto das pessoas não brancas corresponderem à maioria da população mundial (cerca de 80% da população mundial é constituída por pessoas não brancas). Isto contrasta com o facto das “pessoas de cor” nos EUA continuarem a ser consideradas minorias, mesmo se é expectável que estas ultrapassem em número a população branca daquele país tão cedo como já em 2050.

De forma oposta, o termo “pessoas da maioria global” permite às pessoas não brancas de todo o Mundo enjeitar a hierarquia da supremacia branca, assim como a reclamação do seu próprio poder, de forma autónoma e baseada na solidariedade global, em vez de na opressão.

O termo “pessoas da maioria global” é amplamente inclusivo para todas as pessoas não brancas do Mundo, abrindo espaço para a construção de narrativas pluralistas e multifacetadas por parte de pessoas não brancas acerca da sua própria luta contra a opressão racial, em todo o planeta. E, principalmente, possibilita o desenvolvimento e afirmação da solidariedade global contra a supremacia branca sem o recurso a apagamentos culturais de nenhuma ordem.


ReferênciaCom recurso à tradução livre de excertos do artigo I’m Embracing the Term “People of the Global Majority”, de Daniel Lim.(publicado a 10 de maio de 2020 em www.regenerative.medium.com, consultado a 19 de junho de 2022, 20h37m: https://regenerative.medium.com/im-embracing-the-termpeople-of-the-global-majority-abd1c1251241)
Ricardo SimõesEncenadorDiretor Artístico

Teatro Nacional21 · Teatro do Noroeste - Centro Dramático de Viana

É com enorme alegria, prazer, vontade e com a certeza de que juntos somos mais fortes, que a TN21 assume esta co-produção com o Teatro do Noroeste- Centro Dramático de Viana (TN-CDV) em 2023, com o espectáculo “O Lápis Cor de Carne” escrito pela dramaturga Cláudia Lucas Chéu inspirado no texto de Luísa Ducla Soares “Meninos de Todas as Cores”.

Desde 2011, com Glória ou como Penélope Morreu de Tédio de Cláudia Lucas Chéu (em cena no TNDMII e no TNSJ), que a TN21 se dispõe a desestabilizar e a promover a discussão na luta por este desígnio cultural comum. Na senda da experimentação e de um olhar atento ao momento presente, a Teatro Nacional 21, tornou-se um espaço ou uma plataforma onde o teatro e a palavra dialogaram sempre com o foco na provocação de um pensamento vivo e crítico.

Ricardo Simões, director do Teatro do Noroeste - Centro Dramático de Viana, lançou este desafio à nossa companhia. Desenhar um espectáculo para a infância. Até à data, nunca tínhamos encetado essa perspectiva, contudo, um dos princípios fundadores dos projectos da companhia tem sido a pedagogia pela arte e tentamos desde sempre em cada nova produção, alargar o espectro de temas, as equipas com quem trabalhamos, trabalhar programas paralelos que ajudem a convocar espectadores para um papel mais activo e não meros receptáculos de uma linha de informação. Portanto, aceitámos este desafio de desenhar um espectáculo em sintonia com Viana do Castelo, encenado por Natalia Syvanenko (artista e encenadora ucraniana, que segundo a própria “it’s a very important project because being away from home it is very important for me not to lose touch with myself, my community and my profession.” Toda esta bela paisagem enaltece uma das forças da companhia, que se destaca pela criação artística e consequente apresentação, numa perspectiva de descentralização cultural permanente solidificada na dramaturgia portuguesa contemporânea. Esta parceria com o Teatro do Noroeste- Centro Dramático de Viana (que conta com 14 pessoas contratadas), com sede no Teatro Sá de Miranda, surge no desenvolvimento orgânico desta relação vital com os nossos co-produtores a nível nacional e internacional (este ano a TN21 enceta a sua caminhada no Festival Mirada em São Paulo com um dos seus últimos espectáculos, “Orgia” de Píer Paolo Pasolini). A expansão da nossa rede de co-produtores é basilar no nosso desenvolvimento artístico e sobretudo na vontade comum de chegar a mais públicos, de potenciar e materializar inquietações e de assim, contribuir de forma activa para uma sociedade mais tolerante, empática, plural e livre.

O outro, somos nós.


Albano JerónimoTeatro Nacional21

Carta da Encenadora

O meu nome é Natalia Syvanenko, e sou uma directora de teatro ucraniana. Apesar da minha juventude, tenho estado na fase activa do processo de produção há mais de 8 anos e tive o prazer de experimentar diferentes formas e géneros de teatro. Juntamente com material literário clássico do teatro estatal, tive também a sorte de trabalhar no sector independente em projectos documentais e imersivos. Um dos maiores projectos foi realizado no teatro independente Kyiv Wild Theater com o apoio da ONU Mulheres, dedicado à acção contra a violência de género.

Tive a oportunidade de ouvir histórias da linha directa, bem como visitar abrigos para mulheres e falar directamente com vítimas de violência, procurando um ponto de "entrar e sair" em cada história. Uma das histórias da peça era a história da minha própria família e era importante para mim não a lamentar, mas aproveitar a oportunidade para a ver de fora. Juntamente com as actrizes, procurávamos opções para traçar exactamente as atitudes sociais que conduzem a esta co-dependência violenta. Não queríamos tornar ninguém bom ou mau, apenas para trazer todos de volta para si próprios. Acredito firmemente que todos os dogmas sociais são de facto estabelecidos na infância, como norma de comportamento, e todos os adultos são antigos filhos que agravaram as suas atitudes impostas pela geração anterior e pelo "sistema político conveniente".

A última produção que consegui realizar na pacífica cidade de Odessa, na Ucrânia, foi o musical "Pippi". Antes disso só tinha trabalhado em material infantil nos intervalos do Ano Novo, e uma actuação para adolescentes; por isso este foi o primeiro projecto completo para o público mais jovem. Mas ainda era importante para mim falar às crianças não só sobre as aventuras de uma rapariga forte, mas também revelar as camadas mais profundas deste conto. Peppi tem tido o estereótipo de uma rapariga rude, filha de um pirata e de um mentiroso ligado a ela desde criança. Na nossa peça, colocamos uma ênfase importante no momento de escolher a sua própria identidade. Ela foi capaz de passar por um processo de separação e perceber que tem o direito de se tornar exactamente a pessoa de que gosta e não depender da biografia da sua família. Além disso, ela pode aplicar as forças da tradição familiar em seu próprio benefício. Foi assim que o talento paterno do seu pai se transformou em Peppilotta, a escritora de contos de fadas. Quando, na conferência da Convenção Europeia de Teatro em Praga, nos reunimos com Ricardo Simões e Elisabete Pinto e discutimos a possibilidade de colaboração - fiquei imediatamente entusiasmada com a ideia, porque ela reúne a experiência das minhas obras favoritas e importantes. É uma oportunidade para falar com mais crianças e ajudá-las desde tenra idade a ver quão ultrapassados são os velhos padrões e estereótipos que podem encontrar na sociedade e como é muito mais confortável e agradável formar a sua própria visão. Transformando isto em cenas fáceis, engraçadas e comoventes que todas as idades possam compreender - podemos levá-las a uma nova e excitante cidade, na qual há lugar para a amizade, respeito, aceitação e igualdade.

Para mim, é também um projecto muito importante porque, estando longe de casa, é muito importante para mim não perder o contacto comigo próprio, com a minha comunidade e com a minha profissão. Deixei o país 4 dias após a invasão em grande escala e estou agora em residência no Teatro Nacional em Graz. Neste momento, todos os teatros em que eu trabalhava estão fechados, e não é um facto que será possível encenar pelo menos uma das minhas produções anteriores. É por isso que estou realmente feliz por poder criar produções socialmente inovadoras e por continuar a trabalhar.


Natalia Syvanenko Encenadora

Sinopse

Cláudia é adulta e escreve livros, mas, como todos os adultos, usou fraldas e teve de aprender a ler. Cláudia cresceu num bairro carenciado. Brincou e andou à luta com crianças de todas as cores de pele e de várias nacionalidades. Aprendeu cedo que as pessoas são todas diferentes e que por vezes não se entendem. A partir das suas memórias de infância e inspirado no conto «Meninos de todas as cores», de Luísa Ducla Soares, é construída uma narrativa com inúmeros episódios de discriminação, violência, mas também amizade, superação e descoberta do lugar do outro. Das memórias de uma criança cria-se o presente e projecta-se um futuro próximo mais justo e livre para todes.

Os Intérpretes


Alexandre Calçada

Nasceu em Faro, em 1992. Iniciou a sua atividade profissional ainda durante a adolescência, ao longo das férias estivais e fins-de-semana, na área da hotelaria, tendo, mais tarde, trabalhado em discotecas da região algarvia, também durante as férias, já enquanto estudante de teatro. Concluiu em 2014 a Licenciatura em Interpretação na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Instituto Politécnico do Porto (ESMAE-IPP). Trabalhou com encenadores como António Durães, Marco Martins, Jorge Castro Guedes, Paulo Calatré, Fernando Mora Ramos, Kate Craddock e Nuno Carinhas. Através do programa Erasmus trabalhou como ator em dois filmes realizados em Newcastle, em Inglaterra, no Reino Unido. Ainda em Cinema, participa na Curta-metragem “Dentro” de João Nuno Faria. Conta alguns trabalhos com produtoras de ficção Nacional: Plural Entertainment, nas novelas “Santa Bárbara”, “Massa Fresca” e “Jogo Duplo”; e na SP Produções, na novela “Paixão”. Começou a colaborar com o Teatro do Noroeste-CDV em 2018, no espetáculo "A Estalajadeira”, de Carlo Goldoni, com encenação de Ricardo Simões. Participou na Escola de Verão para Atores, coordenada por Guillermo Heras, em 2019, 2020 e 2021, tendo tido formação com Alexandra Moreira da Silva, Isabel Barros, João Henriques e Carlos Avilez. No elenco residente da companhia desde 2019, integrou o elenco dos espetáculos “Farsa de Mestre Patelin”, de João Mota (cocriação com A Comuna); ”Rottweiler”, "Ovos Misteriosos", "A Noite", encenados por Ricardo Simões; "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá", encenado por Tiago Fernandes; "Falar Verdade a Mentir", encenado por António Capelo; “Hantígona", encenado por Guillermo Heras; e “Memória, Memória, Começa a História!”, de Graeme Pulleyn. Para além de ator, é também assistente de produção na Companhia; formador nas Oficinas de Teatro Regulares do Projeto Comunidade do Teatro do Noroeste-CDV, assim como monitor nas oficinas de teatro de férias do Serviço Educativo da Companhia. 


Alexandre Martins

Licenciado em Cinema – ramo de Escrita de Argumentos, pela Escola Superior de Teatro e Cinema, 2006. Ator Profissional desde 1993, integrou o elenco do Teatro do Noroeste-CDV até 1995. Foi dirigido por José Martins, Castro Guedes e Dantas Lima em textos de Carlo Goldoni, António Torrado, Garcia Lorca, Molière, José Jorge Letria, Prosper Merimmè e Bernardo Santareno. Em 1996 integra o elenco do Teatro ao Largo, Vila Nova de Milfontes. Nesse ano é dirigido por Stephen Johnston em textos de Carlo Goldoni e Gil Vicente. Em 1997 volta a integrar o elenco do Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana, Viana do Castelo. Foi dirigido por Xúlio Lago e Castro Guedes em textos de Ibsen e de autoria anónima, a partir do Auto de Floripes. Em 1999 trabalha com o ator Gil Filipe no projeto Contracena no Porto. Sob a sua direção, trabalha em textos de Hélder Costa, Gil Vicente e Lucilo Valdez. Em 2000 integra o projeto do Teatro Oficina em Guimarães. Com a direção de Gil Filipe, são trabalhados textos de Almeida Garrett e Gil Vicente. Em 2001 trabalha no elenco do Art’Imagem do Porto sob a direção de Pedro Carvalho e Roberto Merino nos textos de Alfredo Teixeira e Ricardo Alves e Alfred Jarry. Entre 2006 e 2012 trabalha na formação audiovisual em escolas públicas, integrando um projeto da Associação Ao Norte de Viana do Castelo. Entre 2015 e 2019 integra o elenco do projeto Krisálida – Associação Cultural do Alto Minho de Caminha. Tem ainda participação em várias telenovelas entre 1994 e 2022. Em 2021 participa na websérie “n00b” para a RTPplay da produtora Creative Arts. Em 2020 integra o elenco residente do Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana, Viana do Castelo e, até à data integrou o elenco de: "Falar Verdade a Mentir", encenado por António Capelo; “Hantígona", encenado por Guillermo Heras e "A Noite”, encenado por Ricardo Simões; é formador nas Oficinas de Teatro do Projeto Comunidade e monitor nas oficinas de férias do Serviço Educativo da Companhia. 


Marta Bonito

Atriz e criadora. Frequentou o curso de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) e o mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes (Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Concluiu o curso de Interpretação na Drama Studio London em 2018. Em teatro destacam-se os projetos Spicy White (2022) encenado por Josh Hinds, Pains of Youth (2018) por Helen Tennison, Barulheira (2015) encenado por João Sousa Cardoso e Katzelmacher (2012) encenado por Luís Araújo e Ricardo Braun. Em performance/ movimento destacam-se Trojan Horse (2015), cocriação com André Mendes, Suite nº1 ABC de Joris Lacoste (2014) e Bodies in Urban Spaces (2013) de Willi Dorner. Em cinema A Ronda da Noite de João Sousa Cardoso (2013), A Rapariga de Berlim de Bruno de Freitas Leal (2014), Som de Alex Turvey (2015) e Six Days After Forever de Yoi Kawakubo (2022). Está neste momento a desenvolver o solo My body is not your country com estreia marcada no final de 2022 em Londres.


Ulé Baldé

Lé iniciou o seu percurso artístico no Colégio São Miguel, em Fátima, no curso de Artes Design Cerâmica e Escultura e posteriormente, em 2017, tirou o Tesp em Ilustração e Produção Gráfica, tendo terminado em 2018. Atualmente é licenciada em Teatro na Escola Superior de Artes e Design nas Caldas da Rainha. Em Junho finalizou o estágio com a companhia de teatro "Estrutura" situada no Porto, fez parte da peça "O meu primeiro corpo" como intérprete e assistente de figurinos em 2022. Em 2021/2022 participou como atriz no filme "Nação Valente" do realizador Carlos Conceição. Em julho de 2022 participou como atriz no filme "Primeira Obra" de Rui Simões e "Entroncamento" de Pedro Cabeleira. Atualmente está em apresentações da peça "Lápis Cor de Carne" com o Teatro do Noroeste.

 Os Criadores


Cláudia Lucas Chéu

Escritora, poeta, dramaturga e argumentista. Tem publicados os textos para teatro Glória ou como Penélope Morreu de Tédio [2011, Teatro Nacional D. Maria II], Violência — fetiche do homem bom [2013, Teatro Nacional D. Maria II], A Cabeça Muda [2014, Cama de Gato edições], Veneno [2015, edições Guilhotina]. Em prosa poética, publicou o livro Nojo [2014, (não) edições]. Em poesia, o livro Trespasse [2014, Edições Guilhotina] e Pornographia [2016, Editora Labirinto]. Em 2017, foi publicado em poesia o livro Ratazanas [Selo Demónio Negro, São Paulo (Brasil)]. Publicou em 2018, o seu primeiro romance Aqueles Que Vão Morrer, [Editora Labirinto] e Beber Pela Garrafa [poesia, editora Companhia das Ilhas]. A Mulher-Bala e outros contos [Editora Labirinto, 2019], Confissão [poesia, Companhia das Ilhas, 2020], a Mulher Sapiens [contos e ensaios, Companhia das Ilhas e jornal Público, 2021] e A Vida Mentirosa das Crianças [Nova Mymosa, 2021]. Acaba de publicar Ode triumphal à Cona [poesia, Companhia das Ilhas, 2022] e Orlando — Tratado Sobre a Dignidade Humana [2022, Teatro Nacional Dona Maria II]. O livro Confissão foi semifinalista do Prémio Oceanos em 2021.


Natasha Syvanenko

Nasceu na Ucrânia em 1995, estudou Estudos Culturais na Universidade de Artes de Kyiv e Direção de Teatro na Universidade Nacional de Teatro, Cinema e Televisão de Kyiv. Começou a trabalhar em teatros ucranianos em 2014, combinando o seu primeiro trabalho de direção com a gestão de teatro. Fundou e curadoria projetos no Teatro Molodyy e na cena independente (Mystezkyj Arsenal Cultural Complex, Wild Theatre), bem como colaborações internacionais com a Convenção Europeia de Teatro. Trabalhou com diferentes géneros (teatro dramático, teatro físico, imersivo e documental, performances áudio, formato vídeo). Dirigiu produções musicais, coreográficas e interactivas no Molodyy Theatre, Wild Theatre e Personality Theatre em Kiev, bem como no Teatro “V. Vasilka” em Odessa. O seu projeto documental “Scars”, que consistiu numa produção cénica, um formato áudio bem como um formato de vídeo interativo, foi apresentado em seis cidades na Ucrânia e nomeado para o prémio de teatro “Game”. 


Cláudia Ribeiro

Nasceu em Mirandela, Trás-os-Montes, 1972, estudou artes na escola Soares dos Reis, Cenografia e Figurinos, na Academia Contemporânea do Espetáculo e Figurinos e adereços na Wimbledon School of Art. Durante 12 anos, foi coordenadora do guarda-roupa do Teatro Nacional S. João, no Porto.  Atualmente, como freelancer, desenvolve um trabalho como criativa e coordenadora técnica em diversas estruturas culturais, locais e nacionais. Dos mais diversos autores, às mais diversas artes performativas, sempre na área de figurinos e adereços, trabalhou com as mais diversas personalidades da área do teatro, música, ópera, ballet, televisão e cinema. Lecionou até 2021 várias disciplinas na ESMAE na área da cenografia e adereços. Atualmente, desenvolve a disciplina de tecnologia em têxteis, na escola artística Soares dos Reis.


Joana Carvalho

É arquiteta e fundadora do hub criativo de Viana do Castelo, DINAMO10. Iniciou esta comunidade com a convicção de que a interação e a partilha são fatores chave para a criatividade, inovação e sucesso. Depois de 4 anos em Barcelona, onde se licenciou em arquitetura e fez mestrado em arquitetura efémera, em 2007 regressou à sua cidade natal para fundar o seu estúdio de arquitetura e para, em 2010, criar um dos primeiros espaços de cowork em Portugal, com a ambição de crescer em impacto em vez de tamanho. A convite do Teatro do Noroeste-CDV fez a realização plástica do espetáculo "A Anja Azul", a partir de Nuno Higino, com encenação de Elisabete Pinto, trabalho de cenografia que venceu o Prémio Lápiz de Acero na categoria "Arquitetura Efímera" da prestigiado revista de design colombiana Lápiz de Acero, em 2012. Desde 2017 o seu espaço de cowork faz parte da Rede Europeia de Hubs Criativos, uma comunidade que promove a inovação através do sector cultural e criativo. Em 2016 co-fundou as Viana Tech Meetups, que pretendem ser um ponto de encontro para profissionais do sector tecnológico, onde tem o papel de fazer a ligação ao sector criativo. Desde 2019 é membro Creative Commons Portugal, onde procura implementar projetos com relevância para a comunidade criativa, tal como o CC Local Point, uma iniciativa do DINAMO10.


Noiserv

Noiserv, a quem já chamaram de "o homem-orquestra" ou "banda de um homem só", tem um percurso marcado pela composição e interpretação musical de temas que viajam entre a memória, sonho e a realidade, e é o projeto a solo de David Santos. Conta com o bem sucedido disco de estreia "One Hundred Miles from Thoughtlessness" em 2008, o EP "A Day in the Day of the Days" em 2010 e em outubro de 2013 editou "Almost Visible Orchestra", distinguido em 2014 como "Melhor Disco de 2013" pela Sociedade Portuguesa de Autores. Em 2016 editou o disco "00:00:00:00" uma reflexão intimista ao piano. Com mais de 500 concertos em Portugal e no estrangeiro, integra uma série de outras colaborações musicais, nomeadamente com os You Can't win Charlie Brown, dos quais é membro fundador. Contribui também para o panorama do cinema e teatro nacional, a destacar as colaborações em teatro com Marco Martins, Nuno M. Cardoso e Rui Horta, e em cinema com Miguel Gonçalves Mendes e Paulo Branco, entre outros. Em 2018 compôs a música original para a nova imagem da RTP1 entre muitos outros projetos. A par de quatro bandas sonoras, em 2020 Noiserv editou o seu quarto longa-duração "Uma Palavra Começada Por N" nomeado para prémio de melhor álbum europeu de música independente da IMPALA.


Wallace Wong

Natural de Hong Kong, nascido em 1993, licenciou-se pela The Hong Kong Academy of Performing Arts, em Fine Arts (Honours) in Dance, veio para Portugal em 2018, ano em que se inscreveu no curso de Intérprete de Dança na Performact. Começou a dançar em 2010 como bailarino de rua, principalmente no hip hop Freestyle. É membro da Associação de Dança da Universidade Baptista de Hong Kong há três anos e participou em muitas atividades culturais de rua locais. Ele e os seus parceiros formaram uma equipa de hip hop chamada "Asylum Strangers" que tem como objetivo melhorar um nível superior de técnica de dança e, ao mesmo tempo, abrir-se a experimentar diferentes tipos de estilos e elementos de dança. Em 2018, formou-se na Escola de Dança da Academia de Artes do Espectáculo de Hong Kong, com especialização em Dança Contemporânea. Trabalhou com muitos coreógrafos e realizadores internacionais como Rakesh Sukesh, Olga Roriz, Ricardo Ambrozio, Gonçalo Labato, Diane Madden, Leila Mcmillian, Gabrielle Nankivell, Dam Van Huynh, Laura Aris, John Utan, Christine Gouzelis, Paul Blackman. Wallace representou a academia para participar no Seminário Internacional de Dança Criativa organizado pela Universidade Normal de Pequim em 2015. Em 2017, obteve a Bolsa de Estudo Wong Cho Lam e a Bolsa de Estudo da Faculdade de Dança Contemporânea. Atualmente, participa e é convidado para vários projetos como bailarino.

A cenografia de Lápis Cor de Carne

Ao iniciarmos um projeto tão artisticamente ambicioso como O Lápis Cor de Carne, que tem o desígnio de ser capaz de sensibilizar públicos entre os 6 e os 10 anos de idade para valores de equidade étnica, de género e ecológica, a sustentabilidade é uma chave de pensamento para a criação de uma cenografia artisticamente eficaz e tecnicamente eficiente, contemplando um ciclo de utilidade que transcenderá as apresentações artísticas, de maneira a que saibamos exatamente o que vai acontecer com a cenografia após o ciclo de vida do espetáculo. Quer venha a ser constituída por materiais com potencial utilitário posterior, como por elementos que tenham que ser eliminados, propõe-se a incorporação de um terceiro momento de vida da cenografia, a considerar adicionalmente ao tradicional binómio produção-apresentação.

O que fazer com este cenário?

Podia ser o título de uma peça.

Hipótese 1: se tem caráter utilitário, rentabilizar através da venda ou doação parcial ou total.

Hipótese 2: armazenar indefinidamente, aguardando por oportunidades de reutilização, reconversão, doação ou venda.

Hipótese 3: colocar no lixo, seja inteiramente, por partes ou através da decomposição em materiais consoante a matéria-prima (plástico; metal; madeira).

Hipótese 4: reconversão, através do desmantelamento e aproveitamento de materiais para futuras cenografias, prática que atualmente podemos sintetizar por reciclagem. Desejavelmente, é esta a opção que deve ser favorecida, porque é a mais sustentável. Assim, o processo de produção da cenografia deste projeto incorporará também o ciclo de reconversão da cenografia, assumindo-se um desígnio criativo que visa provocar a menor pegada ecológica possível.

Apenas com estes elementos e neste ponto inicial do processo criativo, será prosseguida a investigação de materiais a partir do objeto lápis de colorir plantável (no lugar de borracha, contêm uma cápsula com sementes de ervas aromáticas e pequenas plantas que permitem que, quando o lápis se torna demasiado pequeno, este possa ser plantado em vez de ir para o lixo), e seu potencial poético e sustentável, que se afigura como possível elemento base para a concepção e construção de uma cenografia que possa ser simultaneamente capaz de servir a dramaturgia e o espetáculo como, também, de ter um ciclo de vida posterior, de cariz utilitário mas cuja carga poética se projeta no tempo, como símbolo de diversidade e tolerância e, também como elemento de sustentabilidade através da utilização por parte das crianças e famílias que assistirem ao espetáculo e, mesmo, por parte de crianças e famílias que, não tendo visto o espetáculo, possam eventualmente beneficiar da oferta de lápis provenientes da reconversão do cenário que, em última instância, podendo ser plantados representarão, em si mesmos, elementos de promoção de boas práticas sustentáveis no quotidiano familiar.


Joana CarvalhoCenógrafa

Vestir o “Lápis Cor de Carne”

O figurino é, em último estádio, matéria física que sobrevive à ação de cada representação teatral, permanecendo para o dia e a récita seguinte. Começa como traço do/a artista e passa da ideia para o papel e deste para a materialidade. O figurinismo contempla a materialização de vestuário destinado aos corpos dos intérpretes, para utilização pelo estrito tempo da sua utilidade como elemento integrante do espetáculo. E uma vez terminado o ciclo de apresentações, o conjunto variável de peças têxteis e adereços que compõem os figurinos perde a sua utilidade. E se até este ponto do processo de conceção e utilização dos figurinos podem não ser considerados pressupostos de sustentabilidade, estes acabam sempre por emergir. Também por isso, para este Lápis Cor de Carne, serão utilizados materiais que possibilitem que, uma vez terminado o espetáculo, os figurinos possam ser reutilizados, seja integralmente como peças de vestuário ou reaproveitados em termos materiais.


Cláudia Ribeiro Figurinista

Sobre a Música ou o Movimento das Notas

Sempre gostei de teatro, reinvento-me com os mais novos e adoro viajar com eles através das palavras. Aqui, neste texto de Cláudia Lucas Chéu “O Lápis Cor de Carne”, (inspirado num texto de Luísa Ducla Soares “Menino de Todas as Cores”), o facto se ser dirigido por uma encenadora Ucraniana, que inevitavelmente transporta toda a vibração de uma transformação viva, uma guerra no seu corpo, a vontade de me juntar a uma parceria que descentraliza a cultura neste país e de poder trabalhar com a companhia do meu amigo Albano, a Teatro Nacional21, tudo isto, para mim, foi inevitável aceitar.

Falar sobre música para teatro, para mim além de contribuir significativamente com a cena, no que se refere às reações emocionais, a música também pode ser um elemento instigador de movimento. Ela tanto pode contribuir para tornar o movimento cénico mais expressivo, quanto pode instigar o espectador a querer movimentar-se.

O ritmo e a melodia da música podem, também, reforçar as reações emocionais e o clima de suspense e tensão da cena. Outro aspecto interessante da música é que ela transmite sensações de cores. O espectador, por exemplo, tenderia a perceber uma cor sinistra, equivalente a uma coloração cinza (por ex), ao som de uma música cuja orquestração seja, essencialmente, de sons graves de clarinetas, trombones e tubas. Neste caso, as tensões tímbricas podem exercer um poder de sugestão de cor muito forte sobre a sensibilidade auditiva do espectador, das crianças.

Costumo dizer que, se neste mundo não existisse ninguém, não estávamos cá a fazer nada. Isto, da música, é para ser vivido uma com os outros. Preciso de pessoas para viver, para que não me sinta sozinho. E aqui, no teatro, nunca me sinto sozinho, pois as coisas são mais bonitas quando têm muitas leituras.


David Santos, aka NoiservMúsico